A Scienza é uma empresa que representa multinacionais que se dedicam à distribuição de produtos farmacêuticos, alimentos para utilizações específicas de determinadas patologias e cosméticos. Há 5 anos iniciou sua operação no Uruguai e nesse país superou as normas demandadas pelas autoridades sanitárias por ter sido a primeira empresa a implementar rastreabilidade. Entrevistamos Eliana Ribeiro, gerente geral da Scienza Uruguai.
Qual foi a origem deste projeto?
A empresa sempre teve como objetivo garantir a segurança dos pacientes e essa premissa sempre foi tida, pelo presidente da Scienza, Eduardo Roquetta, como uma prioridade. É assim que, dada a sua boa experiência na Argentina, desde o nascimento da empresa, foram inseridos no DNA da Scienza Uriguai, a rastreabilidade e a serialização.
Como foi recebida a iniciativa?
Tínhamos muitas dúvidas sobre porque iríamos fazer, especialmente, se do ponto de vista regulatório não havia uma exigência real. Compreendíamos o valor e a contribuição para a segurança do paciente e a eficiência que poderia trazer a nossa organização, aos pagadores e a toda a cadeia de distribuição.
Felizmente, tivemos a vantagem da experiência na Argentina e de poder tirar esse aprendizado para o nosso projeto. Parte do nosso papel também foi comunicar e fornecer informações sobre o assunto, especialmente no Uruguai, onde a rastreabilidade, a serialização e o Datamatrix, não eram conhecidos.
Foi bem recebido por todos os setores e aumentou o interesse conforme as vantagens puderam ser percebidas, sabendo que o produto correto está sendo entregue ao paciente correto e com eficiência adquirida no processo. A serialização as vezes parece mais complicada e cara do que é. Trata-se de um processo extremamente simples, embora necessite de etiquetas, para o tipo de produto que manuseamos é essencial, pois esta etiqueta garante a autenticidade do produto.
Quais foram as etapas que você percorreu durante o projeto?
Durante a primeira fase nos dedicamos a rastrear os produtos e aprender. Essa primeira mudança já nos permitiu ver um impacto positivo ao nível do controle de estoque que, para nós foi extremamente positivo. Mesmo nas devoluções no que se refere à logística reversa, também nos permitiu identificar de onde veio aquele produto, de qual fatura e ser mais eficiente na sua gestão. Nesse sentido durante a pandemia a Scienza tinha um grande desafio que era entregar produtos essenciais a 1.800 pacientes em situação de risco que não podiam sair de casa para retirá-los. Aceitamos o desafio e embora tenhamos um sistema de logística muito bom, a rastreabilidade contribuiu com sua enorme participação. Hoje, podemos dizer que, desses 1.800 pacotes entregues por mês, tivemos 0 erros. Mesmo em alguns casos em que recebemos uma consulta de que foram recebidas mais ou menos caixas, com a rastreabilidade, pudemos verificar e até os próprios pacientes perceberam que estava correto. Estamos orgulhosos de ter esse sistema. Os erros humanos são muito comuns e a tecnologia nesse sentido desempenha um papel fundamental neste caminho de transformação digital.
A próxima etapa foi encontrar um fornecedor que nos permitisse dimensionar o acompanhamento, marcando todas as fases em toda a cadeia logística com o track&trace. Procuramos um fornecedor de um país com muita experiência em serialização como a Argentina. E com a experiência da Scienza Argentina e a confiança de anos de trabalho em conjunto, escolhemos a Verifarma. Sobretudo, por ser uma equipe de pessoas que queria levar este projeto conosco e dada a importância de implementar em um país sem regulamentação e diretamente relacionado com a segurança do paciente, gerou entusiasmo.
A experiência foi muito agradável e enriquecedora, principalmente, nos primeiros dias, quando precisávamos de confiança, apoio e conhecimento para dar esses passos. Tivemos várias instâncias de trabalho para determinar as especificações de requisitos uruguaios. A Verifarma mostrou muita abertura, flexibilidade e contribuíram com ideias.
É assim que, dado o empenho de ambas as equipes, no caso da Verifarma de todas as áreas incluindo a própria diretoria, no acompanhamento, o projeto avançasse e corresse bem, conseguimos um produto muito interessante e otimizado para a nossa empresa e para o nosso país.
Por fim, testamos o gerenciamento com uma farmácia antes de dimensioná-lo. O processo é simples, envolve entrar em uma página web, sem a complexidade de entrar em um banco de dados. E com uma única varredura, a farmácia está resolvendo todas as obrigações que têm concluindo uma operação muito importante, dando visibilidade a toda a rede de forma automática e em tempo real.
Qual foi o impacto da rastreabilidade?
O primeiro é na visibilidade, segurança e confiança. Antes do projeto, nossa rede não tinha visibilidade, era totalmente fragmentada. A farmácia às vezes nem sabia o que estava acontecendo. Assim, você pode saber com antecedência quais produtos vai receber e quais serão entregues ao paciente correto. Essa visibilidade chega até o paciente, pois a Scienza lançou um aplicativo mobile, o Scienza Móvil, para que o paciente tenha visibilidade de quando o produto chega na farmácia e pode retirá-lo. O aplicativo foi o número 1 em downloads no Uruguai. Além disso, por meio do software de rastreamento de cada caixa, é possível saber como esse produto entrou no país, quais as condições de temperatura, quanto tempo ficou na prateleira etc. Dessa forma, além de garantir que o produto não seja falsificado, garante-se que sejam inseridos por uma rede autorizada ou certificada. Isso dá confiança e segurança a toda a cadeia.
Em resumo, a rastreabilidade dá visibilidade, gera eficiência e reduz custos, ao contrário do que se pode imaginar, por isso não há retorno.
Levando tudo isso em consideração, como você vê o futuro da rastreabilidade?
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas acho que será o grande desafio que temos pela frente. Com o valor dos produtos, não se deve duvidar, pois é uma forma de cuidar desses ativos. Existem produtos que valem US$ 5.000, qualquer um pagaria seguro por isso. A movimentação dos produtos de alto custo garante tal sistema, para evitar perdas, para melhorar o gerenciamento da obsolescência, dos estoques, para distribuir o capital investido nesses produtos e para chegar aos pacientes com segurança.
E isso é visto aos poucos em várias partes do mundo, onde a serialização e a rastreabilidade começam a ser regulamentadas. O desafio é implementar em todos os elos da cadeia. Por parte das autoridades sanitárias, entendo que é dever zelar pela segurança dos pacientes, que é a principal causa de todos nós que atuamos na área da saúde, além de protegermos bens e estoques. O advento da tecnologia é um grande acelerador nesse processo.
No caso do Uruguai, somos um dos países mais digitalizados do mundo e dada nossa dimensão, nosso sistema de saúde que não é tão fragmentado e uma cadeia de distribuição pequena, considero que é o país perfeito para poder fazer essas coisas e fazê-las de maneira perfeita.
Sabemos que hoje este projeto coloca a Scienza Uruguai em um lugar de diferenciação, porém, estamos abertos para compartilhar nossa experiência com todos, pois não o vemos como um elemento de competição, mas como uma boa prática que vai gerar um país com medicamentos mais seguros. O Uruguai é um país que mantém tudo em ordem, com medicamentos seguros e com visibilidade para todos.